O Homem em Catarse já percorreu os trilhos da Portugarte com a ajuda da seteoitocinco, apresentando-nos os seus gostos e interesses musicais, num dos episódios de “Qual o teu seteoitocinco?”. Mas hoje chega com a sua mala de viagem mais pesada, carregada de novas emoções soltas, em catarse, e com o novo álbum “Sete Fontes”, lançado no dia 30 de Abril.
A catarse precisa do seu trauma – há que primeiro preencher o corpo de fuligem para que a água a possa lavar, há que primeiro cansar os pés para, sentados, apreciar a paisagem. No teatro, na literatura ou na música, entendemos melhor a tragédia se a seguir encontrarmos redenção. Jó não seria Jó sem as suas provações. Numa época em que aprendemos a soletrar palavras como “confinamento” ou “quarentena”, temos dado pouco espaço à catarse, no sentido libertário que esta acarreta. Parece que o tempo parou, que vivemos presos numa pausa interminável. Mais que a um novo normal, tudo soa a miséria antiga.
Mas há obras que procuram irromper miserabilismo afora para dar aos seus espectadores o conforto que a tragédia requer. No caso de Afonso Dorido, o conforto tem vindo sob a forma de viagem, sentimento (e não apenas palavra) que percorre praticamente todos os seus discos. Sete Fontes não é disso excepção, apresentando-se como uma espécie de roteiro para uma Braga idolátrica que, apesar do distanciamento ou das máscaras, manterá sempre as suas portas abertas.
Misturando field recordings a um piano cujas melodias se inserem na mesma linha emotiva que vai desde as sonatas de Beethoven à Blame Game do Kanye West, Afonso, o Homem em eterna Catarse, oferece-nos não pausa mas continuação – a pausa de uma pausa. Destas fontes sai o recobro, sai a mestria de uma solidão boa, não imposta, a que se guarda na gaveta mal se puxa de um telefonema, de uma mensagem electrónica, de um encontro. Destas fontes sai a vida e devemos dar graças por, apesar da tragédia, ainda estarmos vivos. Isso é catarse.
As “Sete Fontes” do Homem em Catarse
Queremos sempre a história que encaminha até à criação, um suporte ou contexto que nos alimente a apreciação. Felizmente temos uma ferramenta chamada Google, que aceita um copy/paste de cada uma das faixas do Sete Fontes. O Homem em Catarse levou-me a Braga e Braga levou-o a fazer este disco. É o círculo perfeito da utilidade artística.
A minha expectativa é clara: quando for visitar estes locais (e quero muito ir!), espero que me envolva tanto neles, como o fiz a ouvir este último trabalho de Afonso Dorido. A catarse nunca esteve tão óbvia e as sete canções que compõem o álbum evaporam-se num piscar de olhos, deixando um rasto de calma e conexão.
O Homem em Catarse tem em mãos uma aproximação muito bonita da música clássica aos movimentos artísticos mais contemporâneos e a sua popularidade em ascensão promete continuar a esse caminho.
Na Portugarte aconselhamos-te a ouvir o novo disco do artista e podes fazê-lo aqui:
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