Leo Middea é um artista brasileiro que vê no mundo uma inspiração para a sua música. Chegou a Portugal em 2017 e encostou-se a uma cultura que o abraçou, lançando o seu último álbum em 2020 já com contornos lusitanos muito bem desenhados.
Ao longo deste trabalho, vêem-se as pedras da calçada de Lisboa a sorrirem para Leo Middea, que não hesita em colocar estas ruas na sua arte, como podemos ver em temas como O Bairro da Graça, ou Rua de Angola 7. Vicentina (2020) chega com produção de Paulo Novaes, arranjos de Polivalente e participação do cantor Janeiro.
Novo Single e Teledisco “Sorrindo Pra Saudade”
O single Sorrindo Pra Saudade é a sexta faixa de Vicentina, disco que já conta com mais de um milhão de plays no Spotify e mais de 54 mil ouvintes mensais. Uma canção com aura saudosa, nuances melancólicas e atmosfera quente, que consegue transportar-nos através de acordes suaves para a sua relação com a vida, com o sentimento de ser e se expressar, tal como Caetano Veloso e Chico Buarque nos ensinaram. Eessência de Música Popular Brasileira aliada a um toque mais “Europeu”.
Sobre este tema, Leo Middea explica: Esse single foi o processo de mudança para Portugal, por mais que haja a saudade de um amor, ela representa também pra mim a força interna do caminho que estamos dispostos a seguir. O Tarot do refrão: “Perdoa amor, mas segui o meu tarot / na verdade eu só me amei demais / mais do que você me amou”, é real. A minha vinda para Portugal teve muito a ver também com a questão espiritual e, realmente joguei este tarot para ver se era o caminho certo a se seguir.
E o tarot não enganou. Desde a sua vinda para Portugal Leo Middea tem vivido num turbilhão espiritual em que a procura pelo seu caminho é feita de dentro para fora mas também de fora para dentro, e isso está espelhado nas suas canções, de peito aberto e voz acalentada, inundada de poesia.
Sorrindo Pra Saudade conta também com teledisco, uma espécie de “dança” entre duas pessoas que se vão afastando e aproximando, mas sempre com uma qualidade de movimento muito singela, quase como se o próprio movimento fosse a saudade.
Entrevista a Leo Middea
O Portugarte entreteu-se na conversa com o Leo Middea, onde nos fala dos seus projectos, das suas viagens e da aventura que colheu para produzir o seu último longa duração, em que andou pelas ruas a pedir 1€ às almas que se cruzaram com ele. O resultado desta experiência (além de positivo e de ter conseguido atingir o objectivo) foi composto num mini documentário que mostra todas as emoções a que o músico brasileiro se expôs.
Em 2017 mudaste-te para Portugal. Da nossa parte, muito obrigado por te aproximares e por te relacionares ainda mais connosco, com a tua belíssima música. Como foi a tua chegada à Europa? Artisticamente e pessoalmente correu tudo como planeado?
Na teoria eu não tinha muitos planos! Eu decidi vir para Portugal sem saber muito o que iria acontecer. Não sabia se a minha música ia ser bem recebida e como eu me encaixaria no mercado daqui, já que o mercado do Brasil e o mercado de Portugal são muito diferentes. No primeiro ano foi tudo muito difícil em relação a música, mas logo depois tudo começou a fluir e comecei a produzir muito. Em três anos morando aqui, foram dois álbuns e muitas, muitas composições. Portugal me inspirou e me inspira de diversas formas e o público tem me recebido super bem. Fico feliz por toda essa trajetória.
Esta tua mudança para a Europa já trouxe o teu novo disco Vicentina (2020) . Antes, o teu primeiro álbum (Dois), teve uma grande relação com Argentina, onde chegaste a dar bastantes concertos. Como é que achas que estas movimentações se relacionam com a tua música?
Eu vou para onde meu coração me guiar, no início, no primeiro álbum (Dois) eu não conseguia fazer concertos no Brasil, por isso, decidi tentar em outro lugar e fui muito bem acolhido no país vizinho. Argentina é um país que eu amo e que me recebeu super bem, também. O meu primeiro concerto do meu primeiro disco foi em Buenos Aires. A partir daí , esse primeiro contato já com uma cultura diferente da minha, me fez começar a ter essa relação com o mundo e de querer explorar tudo que esteja ao meu alcance. O meu segundo álbum A Dança do Mundo começou aí, nessa busca pela aventura pelo mundo e por navegar em diferentes culturas entendendo de que forma esse movimento pode se relacionar diretamente com a minha música.
Para conseguires gravar este teu último trabalho, percorreste as ruas de Lisboa, a pedir 1€ por cada pessoa que te cruzaste. Este processo resultou num mini documentário, que retrata todo este processo. Como foi esta experiência? Que boas e más surpresas trazias contigo todos os dias? E o que aprendeste durante este período?
Foi um processo muito intenso e único. A experiência de pedir dinheiro na rua é muito complicado pois o sentimento que vem a tona é de total inferioridade. O olhar das pessoas sobre mim eram de total julgamento e muitas pessoas não acreditavam que o que eu dizia era real, muitas achavam que era algum tipo de “golpe”. Eu chegava em casa ao final do dia extremamente cansado e sentindo uma energia muito pesada ao meu redor. Foram muitas meditações e muito foco para eu conseguir terminar o meu objetivo. Ao final de algumas semanas eu consegui todo o dinheiro para gravar o disco e foi a melhor sensação do mundo. A sensação de dever cumprido. Quem ouve o disco não sabe do sufoco que foi! (risos)
Felizmente para o mundo inteiro, tens muitas coisas bonitas em que te podes inspirar na Música Popular Brasileira. Quando ouvimos os teus acordes, conseguimos aproximarmo-nos de nomes como Chico Buarque ou Caetano Veloso. Como é fazer MPB na actualidade, quando já está contada uma história enorme para trás e com tanto significado para a cultura latina?
É apenas uma continuidade. Todos os nomes da MPB estão guardados na história e serão lembrados para sempre. A dificuldade desse geração é conseguir fazer Música Popular Brasileira quando a música popular já não é mais a mesma. A dificuldade de chegar num grande público é imensa mas a cada dia surgem novos artistas e a força desse movimento que chamam de Nova MPB cada dia está mais forte e o que resta a nós é agradecer a todos que vieram antes, não há possibilidade de ninguém ser o novo alguém mas acredito que em cada movimento se constrói um novo capitulo que não tem como saber onde vai dar, mas tenho a certeza que será tão bonito quanto foi.
O teu último álbum tem muito de Portugal. Falas do Bairro da Graça, em Lisboa e ainda tens uma participação com o Janeiro. Qual a tua opinião quanto à música que se está a fazer em Portugal? Tens mais artistas debaixo de olho para fazer outras parcerias criativas?
Eu tenho gostado imenso dos artistas que descubro aqui em Portugal. A cada dia descubro novos e fico encantado com a musicalidade. O Janeiro é genial , foi uma honra imensa ter a presença dele no disco. Com certeza gostaria de outras parcerias, há três artistas que residem aqui que quero muito um dia fazer uma parceria também : Luísa Sobral, Dino d’Santiago e Mayra Andrade.
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