A INVASÃO é uma revista independente de Portugal e é um dos projectos literários artísticos mais interessantes dos últimos tempos no nosso país. O Portugarte teve a oportunidade de conversar com a INVASÃO, onde esta nos deu a conhecer um pouco melhor a sua perspectiva de vida e linha editorial narrativa.
Qual é a linha editorial da INVASÃO e como definiriam o projecto, para aqueles que o desconhecem?
Para quem não conhece, somos uma pequena revista totalmente independente com o objectivo de divulgar artistas que achamos que têm um trabalho incrível e que muitas vezes não têm a exposição que deveriam ter. É aí que entramos e fingimos que é com a nossa revista que eles vão ficar super conhecidos e artistas de sucesso. Talvez tenhamos uma pequena preferência por uma certa estética, que não vos vamos contar qual é, para isso têm de comprar uma Invasão e descobrir ! (Que tipo de pessoas de negócios seríamos se vos déssemos já todos os detalhes?) Tentamos incluir várias vertentes artísticas que vão desde a Ilustração, a Fotografia, a Escrita, etc.
Tivemos a ideia de criar este projecto em 2019 porque estávamos um bocado fartos de trabalhar sempre em projectos pessoais sozinhos, fechados num quarto como autênticos misantropos (na verdade isso ainda acontece…). Trabalhar com pessoas de vez em quando até que pode ser uma experiência agradável… Mas só de vez em quando e em poucas doses!
Inicialmente a ideia era fazer um jornal, mesmo papel e mesmas medidas, (mas é lixado para pequenas tiragens e para pessoal teso como nós) deixar em cafés, bares, bibliotecas, sítios que normalmente não têm este tipo de linguagem para consumir, mas tentámos fazer isso e as revistas acabavam por ser roubadas.. Normalmente convidamos 5 a 4 artistas, pedimos uma breve apresentação e uma série de trabalhos que depois é seleccionada e montada por nós.
O restante conteúdo é com trabalhos do pessoal que faz parte da revista, entrevistas, alguns jogos tipo de jornal, uma parte de “astrologia alternativa” e terminamos a revista com a necrologia de pessoal que achamos interessante ou engraçado. A revista é vendida por um preço simbólico de 5 paus que serve inteiramente para o material e impressão das futuras edições. Gostamos sempre de relembrar que toda a gente pode enviar o seu trabalho, basta enviar mensagem para o facebook da revista com um pdf e uma breve apresentação do seu percurso como artista, do seu trabalho, ou nem tem de escrever nada.
Qual é a responsabilidade de plataformas como a INVASÃO, CVLTO, PORTUGARTE, entre outros, para a divulgação da arte independente em Portugal? E quais são as principais dificuldades que nos deparamos e como ultrapassá-las?
Bem… Agora é que nos tramaram a falar sobre responsabilidade. Felizmente até agora nenhum de nós teve a decepcão e azar de ter filhos, por isso, diria que a responsabilidade é nenhuma…
Acho que estas plataformas, tal como a Invasão e todas as outras mencionadas, existem porque ainda há pessoas que dão valor aos artistas e tentamos fazer com que o nome deles chegue um bocado mais longe, nem que o nome chegue simplesmente ali ao café do lado a uma boca de bagaço, pelo menos já chegou mais longe do que estava quando o artista estava no quarto sozinho a fazer bonecos, ou a tirar selfies… quer dizer… fotografias… ou a escrever textos que lhe saiu do resto de alma que ainda lhe resta. Também acho que já ninguém espera chegar mais longe que isso.
Quanto às dificuldades acho que a pricipal é fazer com que as pessoas se interessem sequer por tudo isto que estas plataformas tentam fazer. Porque ya… para os artistas é incrível participar nestas iniciativas e para quem está já dentro desse mundo, mas o mais dificil é ver pessoas com menos sensibilidade vá, que de alguma forma tendem a desvalorizar tudo isto que nós e todos os artistas fazem, porque estão “só a fazer bonecos”, ou “só a tirar fotografias”, ou “só a escrever”. (Daí também o nome “Invasão”, queremos chegar de paraquedas e invadir o tédio rotineiro que é viver ao sabor do ar condicionado, queremos constipar o pessoal com arte.)
Talvez se soubéssemos como ultrapassar esses problemas acho que nenhum de nós estaria desempregado ou a trabalhar num bar a receber o ordenado mínimo e a ser mal tratado por clientes bêbados. Por isso, continuamos a fazer o que fazemos com a falsa esperança de estar a ajudar a mudar esse tipo de mentalidade.
Como vêem o panorama da arte independente em Portugal e acham que é possível haver uma intersecção artística entre diferentes campos artísticos do underground como a música, arte plástica ou teatro?
Sim, sem dúvida que é possivel e existe essa intersecção entre os diferentes campos artísticos, achamos que é inevitável sinceramente, é quase como uma engrenagem que faz a máquina andar. Conhecemos vários músicos ligados ao underground que não se ficam só pela música e que são excelentes ilustrador@s, ou escritor@s, fotograf@s etc.
Principalmente na música as coisas andam todas muito ligadas à ilustração, artes plásticas, multimédia e não só, há sempre uma necessidade constante de criar ilustrações para merch e muitas vezes isso tudo é feito pelos próprios membros das bandas, sei lá, por questões económicas, ou por alguém da banda já ter uma linguagem e expressão artística que consegue facilmente transmitir o pretendido ou às vezes até mesmo pela rede de contactos não ser muito grande.. e é mesmo aí que a Invasão e outras plataformas entram, para expandir essas redes e fazer ligações improváveis, para que a comunidade não fique tão fechada e a partilha seja maior.
Para quando teremos a oportunidade de ver o próximo número da INVASÃO?
Se tudo correr bem (se deus quiser) e a preguiça não voltar a atacar poderão ver a próxima edição que será a 3ª Invasão em Janeiro, bem fresquinho para o novo ano maravilhoso e conturbado que vai começar daqui a pouco tempo.
Até lá não percam essa alegria de viver.
Os links da INVASÃO
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