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Sara Silva | O espaço entre as relações na pintura abstracta

A Sara Gonçalves Silva é uma pintora do Porto, ligada às correntes contemporâneas e ao expressionismo abstracto.

Sara Silva

A Sara Gonçalves Silva é uma pintora do Porto, ligada às correntes contemporâneas e ao expressionismo abstracto.

Quando eu e o Paulo juntámos as boas vontades de divulgar Arte Independente, sabíamos que iria ser um desafio desabotoar-nos da música como forma de expressão. Foi o membro que mais usámos no corpo da cultura ao longo dos nossos passos pelo underground e seria a linguagem que nos é mais próxima.

Contudo, temo-nos deliciado com esta contracultura de nós próprios, falando de territórios que nos diziam muito, sem que nós disséssemos algo sobre eles.

Perdoa-me este parêntesis, mas faz todo o sentido num artigo dedicado à arte da Sara, que é a terceira pintora com morfologias abstractas, depois de Filipe Marinheiro e Margarida Almeida. Achas que que eu estava à espera de me encaixar tão depressa nestas linguagens? Não, sinceramente. 

Na verdade, interessei-me tanto que comecei a pesquisar mais e mais sobre estas correntes contemporâneas e encontrei uma entrevista de David Ostrowski, pintor abstracto, que afirma “I am fueled by the need to create new things, to create something incomprehensible that is yet unknown.

As coincidências enriquecem as dinâmicas e quando perguntei à Sara quais eram os grandes influenciadores da sua arte, David Ostrowski vinha em primeiro numa lista extensa. Nem de propósito, porque enquanto estes artistas têm vontade de criar o incompreensível, eu tenho vindo a aumentar a minha vontade de o compreender.

A culpa é deles, do Filipe, da Margarida e da Sara. A culpa é tua, artista, que não te calas e vais abrindo janelas e oportunidades de expressão.

A genética e a ligação às artes

Os universos que nos rodeiam vão-nos criando. Também na cultura isso acontece, com a absorção do que nos é mais próximo.

Assim se sucedeu com Sara, que viu a sua vida ligada às artes. Desde cedo se conectou com a dança, teatro e também pintura, que mereceu a sua total atenção desde o início.

“Nunca foi uma escolha para mim. O meu pai é artista e cresci rodeada de pintura. Ele sempre viveu a pintura de uma forma muito intensa. Se algo no atelier não estava a correr bem, ele já não estava bem. Acho que deve ser genético.”

Chegou ao expressionismo abstracto e ao rumo que a sua vida artística tomou, com a observação e contemplação de autores como David Ostrowski (já mencionado), Pedro Cabrita Reis, Philip Guston, Richie Culver, Robert Nava, José Augusto Castro, Mike Ballard, Rose Wylie.

“Naturalmente por admirar durante tantas horas com bom sentimento todos estes génios e muitos mais algo se incorporou em mim.”

Sara Gonçalves Silva já expôs em Barcelona, no Akuyté Studio, mas reforça que é difícil viver apenas da arte em Portugal para a maioria dos artistas e que tem vindo sempre a encaixar a sua vida em trabalhos complementares.

“Space only exists when you’re not with me”

Recentemente a autora lançou uma série de 30 peças a preto e branco, intitulada de “Space only exists when you’re not with me”. Contempla o espaço físico e emocional entre as pessoas.

Como sabemos, as relações são o plural de muitos singulares. Somos corpos e espíritos que crescem num tempo próprio, que vai alterar o processo do próprio vínculo e de invariáveis expressões, tal como nos mostra a série.

“Acima de tudo na expressão de amor, em que vivemos na esperança de uma igual e constante reciprocidade. Mas partindo do facto que estamos presos numa permanente evolução, isso torna-se difícil, talvez impossível.”

Este é um conceito que parte essencialmente de um espaço físico, mas também emocional. O lugar que as emoções ocupam, pode não ser o mesmo que pisas. Um sentimento eterno, explorado por artistas, como o poeta Charles Baudelaire que dizia “parece-me sempre que estaria bem lá onde não estou”, ou o nosso António Variações que estava bem onde não estava.

Em “Space only exists when you’re not with me” há um trabalho de investigação quase íntimo e bastante relacionável e tenta abordar o máximo de caminhos e desvios que se enquadram nas relações. É uma busca intensa pelas hipóteses mensuráveis entre o estar e o sentir.

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Podes encontrar estas e outras obras no Instagram da Sara. Segue o seu trabalho e podes contacta-la para qualquer questão.

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Etiquetas: , , , , , , Last modified: Outubro 17, 2020