Margarida Almeida, 21 anos, é uma pintora emergente no Norte do País. Reside no Porto e completou a sua licenciatura na Faculdade de Belas Artes ainda neste ano, de 2020.
Questionar o estilo de um ou uma artista é um procedimento típico de catalogação, mas também pode funcionar como um castrador. A especialização é um fundamento básico do que nos oferece um limite, um afunilamento que prende os olhos num único sentido e constrói pomares criativos de um fruto apenas. Por isso, falar em estilo diz-nos muito, mas sente-se pouco. A etiqueta interessa a quem procura sentir e oferece um contexto da narrativa.
É assim que Margarida Almeida vê a sua arte.
“Antes de mais, não acredito no estilo. Penso que é uma palavra demasiado redutora e estanque para o que é acima de tudo um caminho, que não está fechado e que se vai construindo à medida que o próprio autor caminha. O estilo acaba por ser uma tentativa vã de encaixilhar matérias que nunca poderão ser medidas ou determinadas, privando o autor da liberdade e da mutabilidade que está inerente à prática artística.”
Foi na Faculdade que começou a pisar terrenos de pintura. Não seria o suposto, revela Margarida, que, numa fase inicial, viu no vídeo e na imagem uma razão para ingressar nas artes. As experiências, os percursos e os universos absorvidos viraram-na para a pintura, apesar de não ter sido uma relação inaugural muito fácil.
“Inicialmente foi uma relação difícil, turbulenta até. Mas uma vez que conseguimos compreender o outro, tudo se clarifica. O médium acaba por pulsar connosco.”
Apesar de se moverem no raio de acção da linha abstracta, os quadros da artista não se consideram correspondentes a um movimento informalista. Há um caminho traçado e uma narrativa clara, tal como em pinturas ancestrais, que Margarida não nega que pertencem ao leque das suas inspirações. Talvez seja por isso que muitas das suas referências se encontrem no interior do surrealismo, como Paul Klee ou Miró.
Colagens e pintura-corpo
Assim como vamos colecionando pontos e momentos à medida que vamos crescendo, também as peças da autora ganham um fluxo de vida com novas aquisições
“Encaro o meu trabalho como um ser vivo – colo, rasgo, talho, inscrevo; a pincelada não dissimulada, os grandes empastes de tinta e também a inclusão de materiais orgânicos (terra, folhas, areia, ramos, pedras) ajudam-me a criar uma pintura-corpo, uma pintura com declives e concavidades, lacerações, golpes, rugosidades, cicatrizes, uma pintura que sangra e respira.”
Esta relação táctil assumida com os seus quadros, advém, e falando concretamente das colagens, de uma estadia em programa de Erasmus em Verona. Não correu como estava escrito nas linhas da expectativa, concluindo-se numa desistência do programa de mobilidade e num regresso a Portugal atribulado.
Esta tensão provocou uma ignição no trabalho de Margarida e revelou-se um rumo bastante natural para as colagens.
“Em Verona, privada da maior parte do meu material de trabalho, conservava apenas algumas folhas de papel e cartão, lápis, pasteis a óleo, uma tesoura, fita cola e cola. Desta forma, comecei a trabalhar a colagem como forma de registo, ensaio, estudo, pensamento. O recorte simplifica a forma, tornando-a quase numa abstração. Esse tipo de linguagem mais sintética agradou-me e mesmo depois de me encontrar com todos os meus materiais, óleos, pincéis, continuei a servir-me da colagem.”
Série “Mountain”
Esta é a mais recente série de Margarida Almeida, intitulada de Mountain. Data de Julho deste ano e foi desenvolvida depois de uma visita à Serra da Estrela.
Através das cores de uma serra já pintada, sentiu o interesse em abordar uma perspectiva mais paisagística. Fê-lo em colagem, que representa o sentido transformativo da própria Natureza.
“Tudo muda, tudo evolui e tudo se pode tornar belo”
Depois das colagens, as obras da série Mountain são cobertas por acrílico, que compõe o relevo inerente à Serra.
Os links de Margarida Almeida
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