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“ZYCLON” | Livro Mata-Ratos | Capítulo XII

Sejam bem-vindos/as ao Capítulo XII do livro dos Mata-Ratos. Estou muito feliz de o feedback, até ao dia de hoje, ter sido muito positivo. Vamos lá ver se eu não arruino isto tudo com o décimo segundo conto, “ZYCLON”!

Zyclon

Sejam bem-vindos/as ao Capítulo XII do livro dos Mata-Ratos. Estou muito feliz de o feedback, até ao dia de hoje, ter sido muito positivo. Vamos lá ver se eu não arruino isto tudo com o décimo segundo conto, “ZYCLON”! Dizem que os tornados ciclónicos literários são muito comuns. Eu não sei, para dizer a verdade. E espero que não me apareça nenhum esta semana!

Como há sempre a (grande) probabilidade de haver pessoas que não leram os primeiros capítulos, ou que não têm a mínima ideia de que estou a falar.

Assim sendo, deixo abaixo alguns links: uma introdução e contextualização deste livro, que nunca chegou a ser editado, e também os primeiros capítulos! Recomenda-se a leitura!

Contextualização:

Capítulos:


Como funciona o livro?

Aviso desde já que esta não é uma biografia da banda.

Este livro são pequenos contos literários e fantasiosos, baseados nas canções dos Mata-Ratos. Este projecto, está dividido por vários capítulos, que serão publicados a cada sexta-feira.

Cada capítulo é narrado de forma independente, sempre na primeira pessoa de um diferente personagem. Existe fio condutor que, aos poucos, é criado entre os diferentes 33 contos. Por fim, é dado um sentido comum a todos.

Ou seja, entre as diferentes histórias existe um universo “mata-ratiano”, que é descortinado de forma lenta mas coesa, a meu ver. Neste caso, este “Cães de Cristo” (o então título do livro, que foi o primeiro nome dos Mata-Ratos), cada acontecimento é um mundo por si só e os personagens vivem todos no mesmo universo, embora em espaços distintos.

Não quis limitar-te a um só género de narrativo. Cada capítulo é único por si só. Admito que a leitura, ao início, possa ser um pouco confusa e difícil de interpretar. Mas, aos poucos, vai-se entranhando. Tal como a música dos Mata-Ratos, há escritos agressivos, sexuais, outros divertidos, sarcásticos e até ironias que, à primeira impressão, possam fazer pouco sentido.

Escolhi assim escrever textos “comuns”, passando por poesia, manifestos, telegramas, entre outras metamorfoses musico-literárias.

Gosto muito da ideia de um universo literário. E ainda mais, de um universo literário punk.


Aviso! (Importante)

Tal como as letras dos Mata-Ratos, algumas partes dos textos possam parecer “vulgares” e indecentes. Mas para quem conhece o grupo, e principalmente o seu conteúdo lírico, isto não é nada de novo.

Assim sendo, é tido como como princípio comum que o conteúdo lírico “obsceno” dos Mata-Ratos não tem como intenção ofender ninguém mas sim chamar à atenção a séria questão de problemas sociais mais abrangentes, através de uma linguagem mais forte e polémica. E, desta forma, os textos literários deste livro baseiam-se nesse mesmo género de canções. Por consequência, os contos também possuem uma linguagem robusta, à semelhança do conteúdo literário do grupo lisboeta.

Caso não estejas de acordo com este tipo de expressão, e conteúdo lírico, recomenda-se que não prossigas à leitura deste artigo e capítulo.


Resumo e Contextualização

Para ajudar um pouco à compreensão de cada capítulo, decidi incluir uma pequena explicação sobre o contexto onde o personagem se encontra, a música na qual o capítulo foi baseado e a respectiva letra. O livro conta com 33 capítulos porque, em 2015 (altura em que realizei este projecto), esse era o número de anos de existência da banda (est. 1982).

O I Capítulo encontra a sua essência na música “És um homem ou és um rato?” (Ataque Sonoro, 2004). Como podemos ver na capa do álbum, existem três personagens: uma chelsea skinhead, um street punk e um terceiro tipo, que não nos é possível descortinar a sua identidade e, deste modo, houve uma confrontação entre 3 sujeitos.

O capítulo II encontra a narração realizada pelo famoso personagem “Rei da Noite” (álbum “És um homem ou és um Rato?”, Ataque Sonoro, 2004). Um dos personagens do II Capítulo cruza-se com este colega da Night.

Neste III capítulo, encontramos um texto baseado no famoso tema “Armando É Um Comando” (“Rock Radioactivo”, EMI, 1990). Desta forma, entendemos que o narrador do conto é o personagem “Armando” (antes de ingressar na vida militar). Este encontrou-se com o “Rei da Noite” (“És um homem ou és um rato?”, Ataque Sonoro, 2004) no segundo capítulo, tendo sido o mesmo o comprador da droga que o “Rei” lhe providenciou.

Depois do IV Capítulo, “Putas ao Poder“, a linha narrativa musical dos infames Mata-Ratos apresenta-nos assim o V Capítulo e o mundo da obscenidade carnal do Zulmiro Pascoal. Para quem desconhece, ele é um tarado sexual e vem apresentar-nos o partido ideal: CCM. É-nos assim dado a conhecer o Manifesto político que o Secretário-Geral do partido CCM escreveu em 1990 e, passados 30 anos, veio finalmente à tona! Será que Zulmiro Pascoal tem possibilidades de ganhar as eleições nacionais este ano?

No VI Capítulo, é-nos apresentando um novo personagem da Musgueira, cuja identidade não nos é descortinada, e que se encontra revoltado com a situação política vigente.

Chegando ao VII Capítulo, encontramos uma inspiração literária na fusão dos temas “Traumatismo Ucraniano” (“Novos Hinos Para A Mocidade Portuguesa”, Rastilho Records, 2007) e “Inocente O Doente” (“Mata-Ratos” demo cassete, Edição de Autor, 1988). Este personagem, tal como relata a canção, imigrou da Ucrânia a Portugal mas a sua vida não melhorou. Na verdade, é-nos dada a impressão que piorou.

Chegamos ao VIII Capítulo. Retratando o estereótipo do Zé Povinho de uma forma irónica e sarcástica, os Mata-Ratos apresentam-nos “Uma Trilogia Portuguesa“. Esta é uma canção inspirado no folclore português e possui uma crítica político-social relativamente ao comportamento erróneo da nação portuguesa. O nosso personagem de hoje é a caricatura desse Zé Povinho, que admira os 3 “F” da ditadura de Salazar: Fado, Futebol e Fátima. Para além de possuir tendências racistas e xenófobas (o narrador odeia ucranianos), é também um golpeador de mulheres. Enfim, o retrato de uma triste realidade portuguesa.

O XIX não é para crentes e a leitura não é propriamente fácil. Inspirada no tema “Gangue das Batinas“, encontramos como narrador deste conto um bispo católico. Este conhece a personagem principal do conto “Putas ao Poder“, e convida-a a confessar-se. Descobrimos assim que esta trabalhadora do sexo tem apenas 15 anos e que, ao entrar na Igreja, é tida como vítima de um assédio sexual. Tal como a canção dos Mata-Ratos diz, estas Igrejas do “Gangue das Batinas” são um negócio e só se importam com a lei do “Santo Bacanal“.

O X capítulo encontra a inspiração numa fusão dos temas “Terrorista Urbano” e “Amor Eterno“. Como podemos ver, o caos está a disseminar-se e começa a aparecer um cansaço na sociedade. Por causa disso, aparece-nos um novo personagem que planeia um ataque terrorista. Ou de um amor eterno? Com o tempo, saberemos!

No XI capítulo, descobrimos que o comando Armando está a sofrer e escreve uma carta à sua amada, Arminda. O conto encontra-se narrado na primeira pessoa, ou seja pelo Armando, em forma de carta (antiquado, sabemos, mas em 1990 – altura em que foi escrita a canção – não havia ainda e-mail e muito menos Facebook!).

Chegando ao XII capítulo, nota-se a aglomeração de alguns indivíduos que, de uma forma informal ou formal (ainda não se sabe), protestam contra o poder vigente! Esta associação auto denomina-se “ZYCLON”. Porque será? E em que acreditam? Podemos reparar que, aos poucos, se vai instalando uma desestabilidade social neste universo “Mata-Ratiano”.


E agora?

Este é o décimo segundo capítulo do livro, inspirado na música “ZYCLON“, e estou ainda a ajustar e moldar a forma como seguir-se-ão os restantes. Deixa-me comentar-te que a introdução ao livro é tão extensa quanto o próprio o capítulo em si. Isto deve-se ao facto que, na minha humilde opinião, o contexto e explicação destes pequenos contos são uma parte inerente e crucial do livro.

A meu ver, no equilibrio geral das coisas, a contextualização encontra o mesmo grau de importância que os capítulos. Um não pode co-existir sem o outro, de forma a prevalecer um total entedimento da escrita “mata-ratiana“.


Música “ZYCLON”


Letra “ZYCLON”

Vejam este fogo
Que me consome as entranhas
Deve ser de comer
Tantas coisas estranhas
Não posso caminhar sem me peidar
E se eu corro
Começo a cagar

As moscas morrem
No meu caminho
O zyclon que solto
Traça seu destino

As moscas morrem
No meu caminho
O zyclon que solto
ZYCLON ZYCLON

Vejam este fogo
Que me consome por dentro
E que me obriga a lançar vento
Este burburismo
Leva-me a loucura
Creio que sou feito
De merda pura


CAP XI – ZYCLON

As moscas mudam mas a merda é a mesma. Não existem palavras suaves para o descrever pois para mudar o sistema, temos que matar as moscas e evacuar a merda. E para isso pegaremos fogo a estas variáveis. Caminharemos indiferentes a qualquer cheiro e correremos perante o nervosismo que as nossas barrigas nos avisam do perigo inerente.

Soltaremos as rédeas da vitória. Nos caminhos que percorrermos, veremos as moscas caídas. Mortas pelo sofrimento das nossas acções. E a elas seremos indiferentes pois sabemos que esse é um sinal para a verdadeira mudança.

Este fogo que sinto. É este o fogo que nos consome por dentro. E este não poderá ser apagado. O vento que os inimigos lançam é uma resistência inútil. Por maior que seja o vendaval, somos os loucos que enfrentam os perigos da derradeira mudança. E levaremos assim a loucura aos 4 cantos deste mundo circular.

E assim, gritamos ferozmente contra estes valores:

Z! Zangado contra tudo e todos!

Y! Yuppies de merda! Mataremo-los a todos!

C! Capitalismo exacerbado!

L! Lenocínio não será perdoado!

O! Organizações estatais!

N! Nacional Renovador, nunca seremos!

Camaradas, juntai-vos a esta luta e gritai bem alto do fundo dos vossos corações contra estes valores que oprimem a nossa vida:

ZYCLON!

ZYCLON!

ZYCLON!

Fim.


Publicarei cada conto uma vez por semana no Portugarte, à sexta-feira, em honra à música “Bezana Ska“, onde o pessoal sai precisamente nesse dia para embededar-se e divertir-se.

A ideia deste livro é precisamente esta. Criar uma bebedeira colectiva literária, onde somos imergidos pelo álcool das boémias palavras e música dos Mata-Ratos. Vemo-nos na tasca! Até breve compas!


Sugestões, caricas, cartas de amor ou de “sentir o ódio”? É escrever-nos!


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Etiquetas: , , , , , , , Last modified: Setembro 18, 2020