Filipe Marinheiro é um artista que explora a expressão visual, através da pintura e da fotografia. É natural de Grândola, mas reside em Lisboa há tempo suficiente para começar a absorver as mutações urbanas e para as estampar na cara da sua arte.
Há algumas semanas, meti-me na aventura de ler o Sul Coreano, Byung-Chul Han, um ensaio filosófico sobre a arte da demora chamado O Aroma do Tempo. O autor defende a tese da existência de uma crise temporal, o tempo que passa demasiado rápido, e diz que só será superada no momento em que a vida activa acolher de novo a vida contemplativa.
Envolvo o Filipe nesta martelada dos ponteiros do tempo, porque quando lhe pedi para me enviar informação sobre a sua obra, ele enviou-me um manifesto, que se resume no seguinte:
“A minha pintura é sobre a passagem do tempo.
A rápida transformação.
A constante mutação física do espaço.”
A coincidência piscou-me o olho no processo de saber mais sobre os quadros do artista. São expressões abstractas e caóticas, tal como a vida urbana que o persegue, assim como representam as alterações temporais e espaciais dos espaços públicos, e a própria degradação da cidade.
Filipe Marinheiro é, então, um observador, ou até um sintoma, desta crise temporal apontada por Byung-Chul Han, contemplando-a e oferecendo-lhe uma forma, sabendo que o conceito do tempo está tangível à sua própria percepção.
Os materiais e o conceito
O Filipe veste as cores de um auto-didacta e confessa que quando começou na pintura, nem sabia pegar num pincel.
“Não tenho qualquer tipo de formação em artes, todo o meu percurso académico esteve bastante longe desse universo. Nunca estudei numa escola de Artes, tudo o que aprendi foi através da experimentação e do erro.”
Usa a espátula para espalhar a tinta na tela, assim como tinta de spray ou colagem de papel. O material utilizado apenas serve como meio de transmissão da ideia, onde cada traço ou alteração transmite uma determinada mudança, tanto física como emotiva.
“Embora possam parecer rápidas e gestuais, na realidade todas pinturas foram derivadas de deliberação, estudo e modificação, resultando num trabalho extremamente pessoal, onde os espaços positivos e negativos interagem entre si como a presença do preto e do branco das telas, deixando o espectador livre para experimentar as emoções descritas nas telas e projectar o seu próprio significado.”
O Skate e a Fotografia
As paixões não se medem aos palmos e foi apenas com 8 anos que o Filipe começou a explorar a cultura do skate. Praticante acérrimo, foi neste mundo que traçou os primeiros esboços da sua arte, quando o pai lhe ofereceu uma câmara fotográfica por volta do ano de 2002. Deu-se conta a fotografar amigos instalados no skate e começou a plantar as suas bases artísticas.
O artista conta a história da sua fotografia, essencialmente com os rostos que se cruzam com o seu olhar. Gosta sobretudo de fazer retratos, a preto e branco, mas não descola as suas intenções artísticas que se unem à vida urbana, tal como se analisa nos seus quadros.
Contudo, quando confrontado com a ligação entre a a pintura e a fotografia, afasta a hipótese de sobreposição e complementaridade das duas artes.
“Se estivermos a falar de aspectos visuais, formalmente são completamente antagónicas, primeiro porque a fotografia resulta numa expressão diferente, mais objectiva, que contrasta com a abstracção assumida da minha pintura. A pintura para mim é mais um escape e é onde sou mais explosivo. A fotografia toca aspectos mais simbólicos da realidade e do quotidiano.”
Exposições
Inaugura hoje, 17 de Setembro de 2020, uma exposição colectiva Cada Canto, Cada Conto com a participação de Filipe Marinheiro. Terá lugar na CABANAmad, em Lisboa.
Já viu também a sua obra exposta em Grândola e já contou com representações suas em espaços como o Eka Palace ou a Taberna das Almas (Anjos 70), em Lisboa
Podes saber mais sobre o artista nos seguintes links: