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Livro Mata-Ratos | Capítulo IX | Gangue das Batinas

Sejam bem-vindos/as ao Capítulo IX do livro dos Mata-Ratos.

Livro Mata-Ratos

Sejam bem-vindos/as ao Capítulo IX do livro dos Mata-Ratos. Estou muito feliz de o feedback, até ao dia de hoje, ter sido muito positivo. Vamos lá ver se eu não arruino isto tudo com o nono conto, “Gangue das Batinas“! Dizem que os tornados ciclónicos literários são muito comuns. Eu não sei, para dizer a verdade. E espero que não me apareça nenhum esta semana!

Como há sempre a (grande probabilidade) de haver pessoas que não leram os primeiros capítulos, ou que não têm a mínima ideia de que estou a falar.

Assim sendo, deixo abaixo alguns links: uma introdução e contextualização deste livro, que nunca chegou a ser editado, e também os primeiros capítulos! Recomenda-se a leitura!

Contextualização:

Capítulos:


Como funciona o livro?

Aviso desde já que esta não é uma biografia da banda.

Este livro são pequenos contos literários e fantasiosos, baseados nas canções dos Mata-Ratos. Este projecto, está dividido por vários capítulos, que serão publicados a cada sexta-feira.

Cada capítulo é narrado de forma independente, sempre na primeira pessoa de um diferente personagem. Existe fio condutor que, aos poucos, é criado entre os diferentes 33 contos. Por fim, é dado um sentido comum a todos.

Ou seja, entre as diferentes histórias existe um universo “mata-ratiano”, que é descortinado de forma lenta mas coesa, a meu ver. Neste caso, este “Cães de Cristo” (o então título do livro, que foi o primeiro nome dos Mata-Ratos), cada acontecimento é um mundo por si só e os personagens vivem todos no mesmo universo, embora em espaços distintos.

Não quis limitar-te a um só género de narrativo. Cada capítulo é único por si só. Admito que a leitura, ao início, possa ser um pouco confusa e difícil de interpretar. Mas, aos poucos, vai-se entranhando. Tal como a música dos Mata-Ratos, há escritos agressivos, sexuais, outros divertidos, sarcásticos e até ironias que, à primeira impressão, possam fazer pouco sentido.

Escolhi assim escrever textos “comuns”, passando por poesia, manifestos, telegramas, entre outras metamorfoses musico-literárias.

Gosto muito da ideia de um universo literário. E ainda mais, de um universo literário punk.


Aviso! (Importante)

Tal como as letras dos Mata-Ratos, algumas partes dos textos possam parecer “vulgares” e indecentes. Mas para quem conhece o grupo, e principalmente o seu conteúdo lírico, isto não é nada de novo.

Assim sendo, é tido como como princípio comum que o conteúdo lírico “obsceno” dos Mata-Ratos não tem como intenção ofender ninguém mas sim chamar à atenção a séria questão de problemas sociais mais abrangentes, através de uma linguagem mais forte e polémica. E, desta forma, os textos literários deste livro baseiam-se nesse mesmo género de canções. Por consequência, os contos também possuem uma linguagem robusta, à semelhança do conteúdo literário do grupo lisboeta.

Caso não estejas de acordo com este tipo de expressão, e conteúdo lírico, recomenda-se que não prossigas à leitura deste artigo e capítulo.


Resumo e Contextualização

Para ajudar um pouco à compreensão de cada capítulo, decidi incluir uma pequena explicação sobre o contexto onde o personagem se encontra, a música na qual o capítulo foi baseado e a respectiva letra. O livro conta com 33 capítulos porque, em 2015 (altura em que realizei este projecto), esse era o número de anos de existência da banda (est. 1982).

O I Capítulo encontra a sua essência na música “És um homem ou és um rato?” (Ataque Sonoro, 2004). Como podemos ver na capa do álbum, existem três personagens: uma chelsea skinhead, um street punk e um terceiro tipo, que não nos é possível descortinar a sua identidade e, deste modo, houve uma confrontação entre 3 sujeitos.

O capítulo II encontra a narração realizada pelo famoso personagem “Rei da Noite” (álbum “És um homem ou és um Rato?”, Ataque Sonoro, 2004). Um dos personagens do II Capítulo cruza-se com este colega da Night.

Neste III capítulo, encontramos um texto baseado no famoso tema “Armando É Um Comando” (“Rock Radioactivo”, EMI, 1990). Desta forma, entendemos que o narrador do conto é o personagem “Armando” (antes de ingressar na vida militar). Este encontrou-se com o “Rei da Noite” (“És um homem ou és um rato?”, Ataque Sonoro, 2004) no segundo capítulo, tendo sido o mesmo o comprador da droga que o “Rei” lhe providenciou.

Depois do IV Capítulo, “Putas ao Poder“, a linha narrativa musical dos infames Mata-Ratos apresenta-nos assim o V Capítulo e o mundo da obscenidade carnal do Zulmiro Pascoal. Para quem desconhece, ele é um tarado sexual e vem apresentar-nos o partido ideal: CCM. É-nos assim dado a conhecer o Manifesto político que o Secretário-Geral do partido CCM escreveu em 1990 e, passados 30 anos, veio finalmente à tona! Será que Zulmiro Pascoal tem possibilidades de ganhar as eleições nacionais este ano?

No VI Capítulo, é-nos apresentando um novo personagem da Musgueira, cuja identidade não nos é descortinada, e que se encontra revoltado com a situação política vigente.

Chegando ao VII Capítulo, encontramos uma inspiração literária na fusão dos temas “Traumatismo Ucraniano” (“Novos Hinos Para A Mocidade Portuguesa”, Rastilho Records, 2007) e “Inocente O Doente” (“Mata-Ratos” demo cassete, Edição de Autor, 1988). Este personagem, tal como relata a canção, imigrou da Ucrânia a Portugal mas a sua vida não melhorou. Na verdade, é-nos dada a impressão que piorou.

Chegamos ao VIII Capítulo. Retratando o estereótipo do Zé Povinho de uma forma irónica e sarcástica, os Mata-Ratos apresentam-nos “Uma Trilogia Portuguesa“. Esta é uma canção inspirado no folclore português e possui uma crítica político-social relativamente ao comportamento erróneo da nação portuguesa. O nosso personagem de hoje é a caricatura desse Zé Povinho, que admira os 3 “F” da ditadura de Salazar: Fado, Futebol e Fátima. Para além de possuir tendências racistas e xenófobas (o narrador odeia ucranianos), é também um golpeador de mulheres. Enfim, o retrato de uma triste realidade portuguesa.

O XIX não é para crentes e a leitura não é propriamente fácil. Inspirada no tema “Gangue das Batinas”, encontramos como narrador deste conto um bispo católico. Este conhece a personagem principal do conto “Putas ao Poder”, e convida-a a confessar-se. Descobrimos assim que esta trabalhadora do sexo tem apenas 15 anos e que, ao entrar na Igreja, é tida como vítima de um assédio sexual. Tal como a canção dos Mata-Ratos diz, estas Igrejas do “Gangue das Batinas” são um negócio e só se importam com a lei do “Santo Bacanal”.


E agora?

Este é o nono capítulo do livro, inspirado na música “Gangue das Batinas”, e estou ainda a ajustar e moldar a forma como seguir-se-ão os restantes. Deixa-me comentar-te que a introdução ao livro é tão extensa quanto o próprio o capítulo em si. Isto deve-se ao facto que, na minha humilde opinião, o contexto e explicação destes pequenos contos são uma parte inerente e crucial do livro.

A meu ver, no equilibrio geral das coisas, a contextualização encontra o mesmo grau de importância que os capítulos. Um não pode co-existir sem o outro, de forma a prevalecer um total entedimento da escrita “mata-ratiana“.


Música “Gangue das Batinas”


Letra “Gangue das Batinas”

As igrejas são negócio
Vejo santos a facturar
Vivem de dinheiro e favores
Que o povo tem para dar

Sob a batina coçam os colhões
O seu cú querem encher
Sua vida é nobre arte
É roubar até morrer

Quando eu era novo ia à igreja
Agora que cresci vou pro bar beber cerveja
Quando eu era novo ia rezar
Agora que cresci já não me vão enganar (enrrabar)

Os manhosos das batinas
Manipulam o rebanho
As suas devotas mentes
Pedem sodomia e dinheiro

Pela fé limparam sebo
No tempo da inquisição
Mas bandidos como eles
Não encontras na prisão

Eles sonham com crianças
Dobradas sobre o altar
E sacam da santa cruz
Pro seu cú baptizar

Agem com impunidade
Praticam o imoral
Para eles só há uma lei
A do santo ba
canal


CAP IX – GANGUE DAS BATINAS

Deus, Pátria e Família. A santa trindade tem de que ser respeitada. Os valores portugueses estão a perder-se, por isso, junta-te a nós caro amigo. Sim, sim. É contigo que estou a falar. A paixão de Jesus, que morreu por nós, é infinita. Que idade tens? 15 anos? É uma ótima idade para retomares o caminho do Senhor. Lê as suas palavras escritas no Novo Testamento. Delicia-te com a criação do mundo no Velho Testamento.

A fonte da vida está no Génesis. Ai, como assim? Vendes o teu corpo? Ao primeiro que tem guito? Nossa senhora! Que palavras são estas? Que discurso vem a ser este? Senhor! Perdoa-a, pois ela não sabe o que faz. Necessitamos de te confessar rapidamente! Anda cá! Mas antes disso, tens algum dinheiro contigo? Não é à toa que estas batinas se pagam, sabes? Temos contas no final do mês. Então sim? Quanto tens contigo? Ótimo, ótimo. Isso serve perfeitamente.

Então fala aqui com o nosso Padre. Ele irá direccionar-te no caminho certo. Esperarei por aqui na porta. Que Deus te acompanhe no teu arrependimento.

(O padre leva a criança ao confessionário e começa a falar…)

“Conta-me lá, minha filha. Discotecas? Abrir pernas? Ai meu Deus. Não fales assim que estás na Casa do Senhor. Modera, por favor, o teu tom de voz. Sim, e o teu discurso. Que outros pecados cometeste? O teu futuro depende de mamar? Não nos trates assim, querida criança. Não somos nenhum gangue. Procuramos sim guiar o nosso rebanho. Aproxima-te criança, aproxima-te que te darei a salvação…”

(Após uma tentativa de abuso sexual, por parte do padre, a criança foge e denuncia a tentativa de assédio a um bispo que se encontrava na Igreja, nesse momento. A sua resposta foi a seguinte…)

“Por onde corres criança? Como foi a conversa com o Padre? Quis-te dobrar sobre o altar? Que sacrilégio dizes? Lembra-te que esta é a casa do Senhor! Não, não, aqui ninguém pratica atos imorais. Se o Padre se aproximou de ti, com certeza tinha uma boa razão! Não abandones a Igreja, regressa aqui! E silêncio! Não te atrevas a gritar dentro deste templo sagrado!”

(A criança escapa-se do bispo e do padre e, com grande e merecida indignação, declara…)

“Padres de merda! Querem oferecer-me a salvação mas procuram-na no meio das minhas pernas. O vosso ato moral é afinal o do Santo Bacanal!”

Fim.


Publicarei cada conto uma vez por semana no Portugarte, à sexta-feira, em honra à música “Bezana Ska“, onde o pessoal sai precisamente nesse dia para embededar-se e divertir-se.

A ideia deste livro é precisamente esta. Criar uma bebedeira colectiva literária, onde somos imergidos pelo álcool das boémias palavras e música dos Mata-Ratos. Vemo-nos na tasca! Até breve compas!


Sugestões, caricas, cartas de amor ou de “sentir o ódio”? É escrever-me!


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Etiquetas: , , , , , , , , , Last modified: Agosto 28, 2020