Sejam bem-vindos/as ao Capítulo VI do livro dos Mata-Ratos. Estou muito feliz de o feedback, até ao dia de hoje, ter sido muito positivo. Vamos lá ver se eu não arruino isto tudo com o sexto conto! Dizem que os tornados ciclónicos literários são muito comuns. Eu não sei, para dizer a verdade. E espero que não me apareça nenhum esta semana!
Como há sempre a (grande probabilidade) de haver pessoas que não leram os primeiros capítulos, ou que não têm a mínima ideia de que estou a falar.
Assim sendo, deixo abaixo alguns links: uma introdução e contextualização deste livro, que nunca chegou a ser editado, e também os primeiros cinco capítulos! Recomenda-se a leitura!
Mas o que diabos está este gajo a falar? O que é este “quase-livro?”
Capítulo I – “És um homem ou és um rato?”
Capítulo III – “Armando É Um Comando”
Capítulo IV – “Putas ao Poder”
Como funciona o livro?
Aviso desde já que esta não é uma biografia da banda.
Este livro são pequenos contos literários e fantasiosos, baseados nas canções dos Mata-Ratos. Este projecto, está dividido por vários capítulos, que serão publicados a cada sexta-feira.
Cada capítulo é narrado de forma independente, sempre na primeira pessoa de um diferente personagem. Existe fio condutor que, aos poucos, é criado entre os diferentes 33 contos. Por fim, é dado um sentido comum a todos.
Ou seja, entre as diferentes histórias existe um universo “mata-ratiano”, que é descortinado de forma lenta mas coesa, a meu ver. Neste caso, este “Cães de Cristo” (o então título do livro, que foi o primeiro nome dos Mata-Ratos), cada acontecimento é um mundo por si só e os personagens vivem todos no mesmo universo, embora em espaços distintos.
Não quis limitar-te a um só género de narrativo. Cada capítulo é único por si só. Admito que a leitura, ao início, possa ser um pouco confusa e difícil de interpretar. Mas, aos poucos, vai-se entranhando. Tal como a música dos Mata-Ratos, há escritos agressivos, sexuais, outros divertidos, sarcásticos e até ironias que, à primeira impressão, possam fazer pouco sentido.
Escolhi assim escrever textos “comuns”, passando por poesia, manifestos, telegramas, entre outras metamorfoses musico-literárias.
Gosto muito da ideia de um universo literário. E ainda mais, de um universo literário punk.
Aviso! (Importante)
Tal como as letras dos Mata-Ratos, algumas partes dos textos possam parecer “vulgares” e indecentes. Mas para quem conhece o grupo, e principalmente o seu conteúdo lírico, isto não é nada de novo.
Assim sendo, é tido como como princípio comum que o conteúdo lírico “obsceno” dos Mata-Ratos não tem como intenção ofender ninguém mas sim chamar à atenção a séria questão de problemas sociais mais abrangentes, através de uma linguagem mais forte e polémica. E, desta forma, os textos literários deste livro baseiam-se nesse mesmo género de canções. Por consequência, os contos também possuem uma linguagem robusta, à semelhança do conteúdo literário do grupo lisboeta.
Caso não estejas de acordo com este tipo de expressão, e conteúdo lírico, recomenda-se que não prossigas à leitura deste artigo e capítulo.
Contextualização
Para ajudar um pouco à compreensão de cada capítulo, decidi incluir uma pequena explicação sobre o contexto onde o personagem se encontra, a música na qual o capítulo foi baseado e a respectiva letra. O livro conta com 33 capítulos porque, em 2015 (altura em que realizei este projecto), esse era o número de anos de existência da banda (est. 1982).
Tudo começou com 2 sujeitos que dão “porrada” num terceiro (referente à música “És um homem ou és um rato?“. Depois, esse mesmo sujeito golpeado vai à disco e encontra-se com o “Rei da Noite” (referente ao tema homónimo da banda). Este vende-lhe pó e, no dia seguinte, Armando descobre que foi convocado para a tropa (referente ao tema “Armando é um comando“).
Seguidamente, passamos para um outro local de acção e escutamos os desabafos de uma trabalhadora do sexo (referente ao tema “Putas ao poder“). Após o referido desabafo, conhecemos o manifesto de Zulmiro Pascoal com o seu partido político CCM (referente ao tema homónimo da banda).
Agora, neste VI Capítulo, conhecemos um novo personagem (cuja identidade não nos é descortinada), que se encontra revoltado com a situação política vigente.
Os pequenos detalhes neste conto centram-se no seguinte:
- Câmara Municipal da Musgueira – referente ao tema “Musgueira Chainsaw Massacre“
- Zé Povinho – referente à caricatura do Rafael Bordalo Pinheiro e à forma metafórica de referir-se ao povo português
- “Malta” e “pão que sabe a merda” – referente ao tema do Zeca Afonso “O que faz falta“
- “Novos hinos da mocidade portuguesa” – referente ao álbum homónimo da banda
- Sementes do Ódio – referente ao tema homónimo dos Mata-Ratos, baseado na canção original dos Misfits “Hatebreeders“
E agora?
Este é o sexto capítulo do livro e estou ainda a ajustar e moldar a forma como seguir-se-ão os restantes. Deixa-me comentar-te que a introdução ao livro é tão extensa quanto o próprio o capítulo em si. Isto deve-se ao facto que, na minha humilde opinião, o contexto e explicação destes pequenos contos são uma parte inerente e crucial do livro.
A meu ver, no equilibrio geral das coisas, a contextualização encontra o mesmo grau de importância que os capítulos. Um não pode co-existir sem o outro, de forma a prevalecer um total entedimento da escrita “mata-ratiana“.
Música “Sementes do Ódio”
Música “Hatebreeders”
Capitulo VI | “Sementes do Ódio”
Vivemos tempos perigosos.
Esta é uma falsa democracia onde a oposição não serve como oponente àqueles que se encontram no poder. A “malta” já se encontra desanimada e embora o pão saiba a merda, ninguém trata de avisar o companheiro. A noite não foi dormida mas tão pouco há alguém para acordar. O homem dorme na valeta mas quem pagou a conta foi o Zé Povinho.
A arte da corrupção é dominada por aqueles que elegemos e embora enganem sistematicamente aqueles que trabalham, a indiferença é uma certeza da nossa sociedade. Os votos de hoje são os novos hinos da mocidade portuguesa. São a concordância social daqueles que nada possuem e que o pouco que ganham, de forma assalariada, é explorada sem escrúpulos pelos altos impostos.
E por isto, manifestamo-nos contra todos aqueles que são detentores de capital. Iremos roubar o que é nosso.
Chega a altura de dizer não! E assim, levanto-me na reunião da Câmara Municipal da Musgueira e, de forma muito calma, aproximo-me do microfone para proferir uns dizeres. Estamos nas comemorações do 33º aniversário da cidade e se a minha voz alguma vez poderá ser ouvida, será com certeza nesta altura.
“O perdão fiscal é só para os milionários! Recuso-me a pagar os impostos! Vejo auto-estradas a serem construídas mas o acesso à saúde e educação é cada vez mais restrito àqueles que são detentores de capital! E eu? Com os passar dos anos, acabei sem nada! NADA! Está na altura de um novo mundo! De um admirável mundo novo!“, levantei-me e gritei!
Vaiaram-me, empurraram-me e, enquanto os repórteres atiravam-me perguntas, a segurança agarrou-me, tendo calado as minhas palavras.
Podem ter interruptido o meu discurso. Mas uma coisa tenho a certeza. A semente do ódio foi germinada.
Fim.
Publicarei cada conto uma vez por semana no Portugarte, à sexta-feira, em honra à música Bezana Ska, onde o pessoal sai precisamente nesse dia para embededar-se e divertir-se.
A ideia deste livro é precisamente esta. Criar uma bebedeira colectiva literária, onde somos imergidos pelo álcool das boémias palavras e música dos Mata-Ratos. Vemo-nos na tasca! Até breve compas!
Sugestões, caricas, cartas de amor ou de “sentir o ódio”? É escrever-me!