Sejam bem-vindos/as ao Capítulo IV do livro dos Mata-Ratos. Estou muito feliz de o feedback, até ao dia de hoje, ter sido muito positivo. Vamos lá ver se eu não arruino isto tudo com o quarto conto! Dizem que os tornados ciclónicos literários são muito comuns. Eu não sei, para dizer a verdade. E espero que não me apareça nenhum esta semana!
Como há sempre a (grande probabilidade) de haver pessoas que não leram os primeiros capítulos, ou que não têm a mínima ideia de que estou a falar. Assim sendo, deixo abaixo alguns links: uma introdução e contextualização deste livro, que nunca chegou a ser editado, e também os primeiros capítulos! Recomenda-se a leitura!
Mas o que diabos está este gajo a falar? O que é este “quase-livro?”
Capítulo I – “És um homem ou és um rato?”
Capítulo III – “Armando É Um Comando”
Como funciona o livro?
Aviso desde já que esta não é uma biografia da banda.
Este livro são pequenos contos literários e fantasiosos, baseados nas canções dos Mata-Ratos. Este projecto, está dividido por vários capítulos, que serão publicados a cada sexta-feira.
Cada capítulo é narrado de forma independente, sempre na primeira pessoa de um diferente personagem. Existe fio condutor que, aos poucos, é criado entre os diferentes 33 contos. Por fim, é dado um sentido comum a todos.
Ou seja, entre as diferentes histórias existe um universo “mata-ratiano”, que é descortinado de forma lenta mas coesa, a meu ver. Neste caso, este “Cães de Cristo” (o então título do livro, que foi o primeiro nome dos Mata-Ratos), cada acontecimento é um mundo por si só e os personagens vivem todos no mesmo universo, embora em espaços distintos.
Não quis limitar-te a um só género de narrativo. Cada capítulo é único por si só. Admito que a leitura, ao início, possa ser um pouco confusa e difícil de interpretar. Mas, aos poucos, vai-se entranhando. Tal como a música dos Mata-Ratos, há escritos agressivos, sexuais, outros divertidos, sarcásticos e até ironias que, à primeira impressão, possam fazer pouco sentido.
Escolhi assim escrever textos “comuns”, passando por poesia, manifestos, telegramas, entre outras metamorfoses musico-literárias.
Gosto muito da ideia de um universo literário. E ainda mais, de um universo literário punk.
Aviso! (Importante)
Tal como as letras dos Mata-Ratos, algumas partes dos textos possam parecer “vulgares” e indecentes. Mas para quem conhece o grupo, e principalmente o seu conteúdo lírico, isto não é nada de novo.
Assim sendo, é tido como como princípio comum que o conteúdo lírico “obsceno” dos Mata-Ratos não tem como intenção ofender ninguém mas sim chamar à atenção a séria questão de problemas sociais mais abrangentes, através de uma linguagem mais forte e polémica. E, desta forma, os textos literários deste livro baseiam-se nesse mesmo género de canções. Por consequência, os contos também possuem uma linguagem robusta, à semelhança do conteúdo literário do grupo lisboeta.
Caso não estejas de acordo com este tipo de expressão, e conteúdo lírico, recomenda-se que não prossigas à leitura deste artigo e capítulo.
Contextualização
Para ajudar um pouco à compreensão de cada capítulo, decidi incluir uma pequena explicação sobre o contexto onde o personagem se encontra, a música na qual o capítulo foi baseado e a respectiva letra. O livro conta com 33 capítulos porque, em 2015 (altura em que realizei este projecto), esse era o número de anos de existência da banda (est. 1982).
No último capítulo, Armando foi convocado para a tropa. Com um grande desagrado, devido à contrariedade vivida, o personagem termina o conto com um desabafo: “Puta que me pariu“. A sequência lógica, que cria uma linha narrativa de ligação entre as diversas canções dos Mata-Ratos, será assim estabelecer a continuidade do referido capítulo com o tema “Putas ao Poder” (“És um homem ou és um rato?”, Ataque Sonoro, 2004).
Tal como diversos movimentos político-sociais defendem, as trabalhadoras da indústria do sexo também contam o meu respeito. O seu trabalho deveria ser assim devidamente legalizado. A hipocrisia social terá que um dia terminar e esta profissão, igual a muitas outras, terá que contar com uma devida protecção, regulação e assistência social.
Assim sendo, a meu ver, a letra “Putas aos Poder” dos Mata-Ratos não pretende criticar tal profissão. Recorrendo ao imaginário popular da críticial social do povo português, o conteúdo lírico tem como primordial intenção denunciar a corrupção dos seus “supostos” filhos, ou seja, os políticos.
Este é o capítulo mais curto do livro, até aos dias de hoje. Creio verdadeiramente que para uma mensagem ter impacto, não é obrigatoriamente necessário reescrever “Os Lusíadas” (1572). Por vezes alguns simples, mas podersoso, parágrafos cumprem a sua função. E espero que esta minha crença faça justiça ao texto deste Capítulo IV.
E agora?
Este é o quarto capítulo do livro e estou ainda a ajustar e moldar a forma como seguir-se-ão os restantes. Deixa-me comentar-te que a introdução ao livro é mais extensa como próprio o capítulo em si. Isto deve-se ao facto que, na minha humilde opinião, o contexto e explicação destes pequenos contos são uma parte inerente e crucial do livro.
A meu ver, no equilibrio geral das coisas, a contextualização encontra o mesmo grau de importância que os capítulos. Um não pode co-existir sem o outro, de forma a prevalecer um total entedimento da escrita “mata-ratiana“.
Música “Putas ao Poder”
Letra “Putas ao Poder”
Afinal já há solução
Já vejo um fim à alienação
Aqui onde reinam os chulos e anormais
Onde uns nada têm e outros têm demais
Aumentam as diferenças
É só merda e confusão
Povo obediente sem saber dizer não
Sucedem-se governos e a merda continua
Chegou o momento de irem todos para a rua
Vá, vão-se todos foder
Os filhos já lá estão, queremos as putas no poder
Vá, vão-se todos foder
Os chulos já lá estão, ponham as putas a render
Afinal já há solução
Já vejo o fim à degradação
Aqui onde reinam políticos demagogos
Eles tudo podem, nós podemos com pouco
Aumentam os impostos
E esta insatisfação
Comecamos por baixo a bancar a repressão
Sucedem-se governos, a merda é sempre a mesma
Chegou o momento de acabar com esta festa
Vá, vão-se todos foder
Os filhos já lá estão, queremos as putas no poder
Vá, vão-se todos foder
Os chulos já lá estão, ponham as putas a render
Afinal já há solução
Para por fim à corrupção
Aqui onde reina o Apito Dourado
CAPÍTULO IV – “Putas ao Poder”
Sou uma puta. Mas o que me envergonha não é a minha profissão mas sim os filhos que pari. Estão todos no poder e deixaram a sua mãe ao abandono. Deputados, ministros e presidentes de câmara. E o maior deles é o presidente desta nação.
Fim.
Publicarei cada conto uma vez por semana no Portugarte, à sexta-feira, em honra à música Bezana Ska, onde o pessoal sai precisamente nesse dia para embededar-se e divertir-se.
A ideia deste livro é precisamente esta. Criar uma bebedeira colectiva literária, onde somos imergidos pelo álcool das boémias palavras e música dos Mata-Ratos. Vemo-nos na tasca! Até breve compas!
Sugestões, caricas, cartas de amor ou de “sentir o ódio”? É escrever-me!