O Sol Que Nos Consome é o alter-ego de João Maia Henriques. Cansado de projetos anteriores, onde uma colaboração entre os vários músicos não lhe trouxe o apogeu da criatividade pretendida, o músico lançou-se à descoberta da sua persona artística, através da sua independência relativamente aos demais.
Esta one-man band encontra a sua narrativa através de loops de guitarra, sintetizador e drum machine. E O Sol Que Nos Consome é o arquitecto que funciona como um ponto de encontro através da fusão dos diferentes elementos musicais. O músico editou o albúm “Movimento” este ano, através de uma edição de autor, seguindo assim uma apologia ao ethos dos artistas independentes do do-it-yourself.
Somos assim transportados para uma melancolia industrial, onde palavras de ordem são proferidas, em temas como “Ser Humano“. O hiptónico baixo não nos é indiferente, deixando que a nossa ansiedade baile com uma inquietante expectativa. Esta é assim apaziguada por uma guitarra que baila ao som da sua própria melodia. Aceitamos, desta forma, o não tão sereno protesto de João Maia Henriques: “Acordemos!”.
Mas engane-se quem pense que este disco encontra a sua zona de conforto, através da repetição de uma fórmula artístico-musical. Na música “V“, O Sol Que Nos Consome, apesar do seguimento de uma acentuada crítica social , encontra um apaziguamento no seu cantar.
É de salutar a lindíssima composição da violinista Ana Santos, neste tema. A musicista não só cumpre na perfeição o papel que lhe é exigido, como se liberta nos seus inerentes sentimentos. Ana molda, deste modo, o seu próprio cântico instrumental, incorporado um paralelismo sinfónico na referida música .
O albúm é composto por sete temas e recomenda-se vivamente a sua audição. Encontramos assim nuances de neo folk, trip-hop e alguma electrónica.
A sua música é desconcertante num mundo que, por si só, é disfuncional.
E por isso as coisas fazem sentido na sua música. E neste lugar onde vivemos. O seu som atrai-nos e o seu espírito também. Há uma espécie de chamamento do mais-além, que não nos é possível explicar, em temas como “A Torre, PT. 2″.
Estas músicas encontram a sua essência num complexo minimalismo, com influências drone no seu background, que nos remetem às memórias do universo de Sun O))). Não existe uma pressa cativante para o ambiente existente, onde a música toma o seu próprio espaço. E é assim que as coisas devem ser.
Por último, recomendamos aos nossos leitores esta cover do tema “Cantiga do Fogo e da Guerra“, de José Mário Branco. O artista presta assim tributo à revolução do 25 de Abril, através de uma interpretação única desta tema.
Para além da musicalidade do artista, existe um forte trabalho de videoarte, que em tudo se relaciona à arte e mistério de O Sol Que Nos Consome.