Written by: Artes Ilustração Portugarte

A intervenção político-social da ilustradora Cataestrófica

Cataestrófica

Cataestrófica é o alter-ego da Catarina. A ilustradora, que vive na zona oeste de Portugal, revê-se como uma “alquimista da desordem e militante do flow” e, através das suas “poções reivindicativas antropomórficas“, a artista expõe importantes e contemporâneos temas políticos-sociais que, de uma forma ou de outra, não são objecto de um aprofundado debate nos dias de hoje.

"Os acontecimentos recentes têm exigido uma reflexão sobre História e memória. Esta pode ser uma oportunidade para repensar a educação, através da revisão dos conteúdos programáticos da disciplina de História e da alteração de currículos escolares. A História que aprendemos conta apenas com um discurso que silencia outro, é uma construção baseada num único olhar - o do colonizador - que tende a glorificar o passado e a ter uma inclinação nacional imperialista que não reconhece e invisibiliza outras identidades. Quando são destruídos objetos, está a ser retirado o sentido que lhes foi atribuído com o passado da violência colonial. A relação que temos com os objetos deve ser reiventada, para que haja oportunidade de escrever uma nova página na História e pensar um futuro mais justo que, em vez de reforçar uma relação de poder assimétrica, se abra a uma nova forma relacional e identitária. Desconstruir! Descolonizar!" (14 de junho, 2020)

Para a Cataestrófica, a arte não é somente o reflexo de uma ilustração por si só. Esta encontra-se sempre acompanhada de uma importante reflexão relativa ao desenho em questão. Esta descrição é fulcral para uma melhor percepção da sua mensagem político-social. A beleza artística da sua mensagem encontra-se envolta numa enorme crença nos seus ideais.

Num tempo crucial, como os dias de hoje, é importante existir um forte posicionamento relativamente às questões políticas e sociais que nos rodeiam. A nossa forma de expressão, e afirmação pessoal, passa muito mais do que simplesmente aderir ao slacktivismo, pensando que fizemos o que tinha de ser feito. E é aqui que a Catarina cumpre com excelência um papel de descontrução social.

A arte da Catastrófica é um meio para atingir um fim, sendo esta a materialização de uma ferramenta política.

É importante salientar que a sua arte encontra um abrangente espectro relativamente às temáticas abordadas. São analisados diversos assuntos desde o ambientalismo, passando pelo anticapitalismo, antirracismo, veganismo, entre outros.

"Com as pessoas brancas a terem o privilégio de ocupar hegemonia e lugares sobranceiros na sociedade, torna-se necessário combater a normatividade do discurso e das experiências brancas. Para isso, é importante calarmo-nos, prestar atenção e escutar as vozes negras, dando lugar e espaço para as suas experiências e narrativas, cuja representação sempre foi pouco significativa sem recorrer ao tradicional assistencialismo branco. Tornar este movimento num compromisso e uma responsabilidade social diários é essencial para criar uma sociedade justa para todxs." (7 de junho, 2020)

Através da antropomorfização presente na sua ilustração, é-nos possível gerar uma maior empatia pelos personagens presentes, em diferentes situações. É-nos possível transportar os referidos personagens à nossa realidade e revermo-nos em certas situações ou, até mesmo, conhecer determinadas pessoas no nosso cotidiano que poderão agir de X ou Y forma.

"O género é um conceito construído socialmente através de uma série de comportamentos e papéis que são transmitidos pela nossa cultura, educação, meios de comunicação, etc. É sentido nos nossos corpos e afeta como expressamos a nossa identidade, como nos relacionamos com xs outrxs e com o mundo. No processo de comunicação, usamos pronomes pessoais com bastante frequência, quer na linguagem oral, quer na escrita. Contudo, estamos bem habituadxs a um discurso que se limita facilmente às regras do género binário, falhando em considerar e respeitar as pessoas transgénero, sendo este um passo essencial na sua luta de afirmação e reconhecimento. Ignorar as pessoas transgénero e/ou não-binárias nos nossos discursos é uma forma de discriminação. É necessário incluir, dar visibilidade e reconhecer todas as pessoas na nossa comunicação, usando os pronomes e nomes corretos." (29 de abril, 2020)

Ao identificar as causas que levam as pessoas a comportarem-se de certa forma, é-nos possível corrigir as falhas do nosso dia-a-dia.

Tendo por base o conceito de Sincronicidade de Carl Jung, encontramos uma relação causal no universo e aplicamo-la à nossa realidade. Desta forma, a realizadora Tota Alves materializa um ponto de conexão entre o Portugarte e a Cataestrófica. A nossa plataforma deu a conhecer, há uns dias atrás, o seu documentário “O Meu Sangue” (RTP Play) mas, em março do presente ano, a Catarina já tinha apresentado ao mundo o “Monstruação”.

Monstruação

Vamos desmistificar a menstruação a quem tantos dão a forma de papão? Contem com a preciosa ajuda da série documental @omeusangue para “desmonstruar”, aniquilar os tabus, melhorar o vosso relacionamento com o período, conhecer mais, normalizar e escutar as experiências de diferentes (e lindas) pessoas. Querido sangue, sê bem-vindo!

Cataestrófica (6 de março, 2020)

Uma das características da Cataestrófica é criar uma arte com uma enorme empatia, compreensão e amor. Mas é claro que um salpico de ironia e humor também nunca caem mal.

"Um dia vamos todxs parecer a Elsa da animação Frozen e passear que nem cisnes venezianos. Acreditem." (22 de março, 2020)

Toda e qualquer acção leva à consequência de uma reacção. E o caso de Cataestrófica não é nenhuma excepção. Assim sendo, relativamente à criação deste projecto em particular, a artista revela ao Portugarte que:

Acho engraçado (embora um pouco infeliz) que o projeto tenha nascido por incentivo de uma amiga, depois de ter feito um desenho onde revelava a minha frustração e ódio por ter sido assediada num autocarro. Desde então, tenho aprendido muito e recebido muito apoio da comunidade em muitas outras questões reivindicativas, que não as do feminismo.

Cataestrófica (3 de julho, 2020)

O seu talento é inato e vem desde uma longa data. Na verdade, Catarina já desenha desde os dois anos de idade, embora se considere uma ilustradora desde o início da sua licenciatura, em 2008.

Este projeto autoral de ilustração, que hoje conhecemos no Portugarte, é bastante recente. Teve o seu nascimento no início deste ano. Mais propriamente no dia 9 de janeiro, onde ilustra precisamente a anteriormente referida questão do assédio e do espaço pessoal.

Cataestrófica
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀"Sobre assédio" (9 de janeiro, 2020)

As suas principais influências são os animais-humanos da fase inicial da Julia Pott, o traço, o caos e as cores do Pedro Zamith e o sarcasmo da Wasted Rita.

Por último, a artista é bastante seletiva com os pedidos personalizados e prefere desenvolver o seu trajeto apostando na crítica social. Quando surge a hipótese, ajuda amigos/as na divulgação das suas causas.


Como posso escrever à Cataestrófica?

Isto das redes sociais é assim. Está aqui para nos facilitar a vida! Escreve-lhe! Ela vai gostar imenso de receber o teu feedback!


Amei o seu trabalho! Onde posso comprar a arte da Cataestrófica?

É só clicar aqui e visitar a sua loja na Society6. Viste só? Fácil!


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Etiquetas: , , , , , , , , , , , , Last modified: Janeiro 28, 2021