Amália Rodrigues comemoraria ontem 100 anos de vivências nacionais. Foi um dia muito especial para Portugal e ocorreram diversos eventos, um pouco por todo o país.
Para celebrar esta ocasião, abordaremos o fado através de uma diferente perspectiva e falaremos sobre as vozes contemporâneas do fado feminino. Mais concretamente, conheceremos a fadista conimbricense Inês Graça e a sua mais recente colaboração com a banda de rock alternativo Fitacola.
Em 1998, Diana Basto lança o single “Grita, Sente” (Universal Music Records), tendo sido um hit que lhe repercutiu um enorme sucesso nacional. A prova desse êxito foi o consequente trespasse artístico das fronteiras nacionais, tendo a referida música sido incluída no genérico final da telenovela brasileira “Torre de Babel“.
Passados 12 anos, chegamos a uma nova interpretação da música em questão. E esta é muito mais do que uma cover. Porquê? Nesta, os músicos vão mais muito mais além do que é esperado. Não submetem o público à audição de um tema em tudo semelhante ao original. Não temem em realizar arranjos conforme a musicalidade da sua banda, sem nunca perder em vista a essência da referida intrepetação.
É assim criada uma personalização musical, que nos remete para um universo musical que nos é estranho e fantasioso. Entramos desta forma numa terra do lugar comum. Existe a sensação de já conhecermos estas melodias sem, contudo, estarmos cientes de que a experiência que a Inês Graça e os Fitacola nos apresentam agora, é completamente distinta ao que “Grita, Sente” foi.
A voz do fado coexiste com o rock?
É esta a interrogação que nos surge ao ouvir a Inês Graça cantar Diana Basto, numa versão de rock com infuências punk e skatepunk, de uma forma bastante energética e acelerada. Pessoalmente, agrada-me imenso a mistura de géneros musicais e o sair da nossa zona de conforto artística.
Inês Graça é uma maravilhosa fadista algarvia residente em Coimbra, que editou o ano passado o álbum “Origens” (Fado Ao Centro, 2019). Muito boa gente, incluindo a minha pessoa, não esperariam que uma artista desse género musical se aventurasse a uma aventura musical mais roots. E, como seria de aguardar de uma pessoa com um talento inato musical, o resultado que nos é apresentado é simplesmente fenomenal.
A voz de Inês Graça funde-se na perfeição com a musicalidade dos Fitacola, encontrando um harmonioso equilibrio ao realizar um duo com o vocalista Diogo Ramos.
Ao criar um conjunto de versões, a serem editadas num futuro EP, os Fitacola procuram assim homenagear algumas das grandes artistas de Portugal. E assim, materializou-se o desejo e cumpriu-se um inesperado sonho musical, de ambas as partes. Esta é uma fantástica colaboração entre a Inês Graça e os Fitacola.
Letra “Grita, Sente”
O tempo vai
O tempo vem
Como a verdade e o mar
O mundo dá o que o mundo tem
A liberdade e o luar
E um dia
O céu não nasce azul
Não,
Que um pássaro voou
Deixem que esta mão se bata por mim
Já não há razão p’ra que nada seja assim…
Não é a dor que é cruel
É o amor que rasga a pele
Grita, sente o meu corpo junto ao teu até morrer
Breve, quente o meu rosto de guerreira e de mulher
Grita, sente o meu corpo junto ao teu amanhecer
Breve, quente o meu corpo junto ao teu até morrer
Grita, sente
De guerreira e de mulher
grita, mente
Junto ao teu até morrer
Grita, sente
De guerreira e de mulher
grita, mente
Junto ao teu até morrer
grita, sente…..
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Abraço e até amanhã! Paulo